Vamos conversar

A vida é uma eterna tentativa e erro. Você erra e tenta de novo até conseguir, aí passa pra próxima coisa: vai tentando. Daí que a gente erra uma vez e chuta todos os baldes. A gente só precisa deslizar uma vez pra desistir.
Que doideira, né?

Às vezes a gente se apega tanto a ideia de que não temos tempo, não temos como, não temos jeito que a gente mesmo se convence disso sem esforço. E eu to sempre repetindo por aí que a vida tá aí pra gente ir atrás e fazer nosso melhor. É porque a vida tá lá fora mesmo. A gente tem que sair desse nosso interiorzinho bagunçado e procurar se arrumar.

A gente tem pressa. Tem mesmo. A gente quer tudo pronto, hoje, agora. Não amanhã, não daqui a pouco. Somos apressados desvairados loucos por resultados imediatos. E o imediatismo é longe de ser perfeito, em todos os detalhes como gostaríamos. Então, se fazemos e uma coisinha sai fora do lugar, se tem algo mais pra esquerda que pra direita, meu amigo, então tá tudo uma merda. Por que? Eu não sei! A gente só pode ser doido!
No lugar de arrumar, de acertar os centímetros, a gente vai embora, se acha incapaz e não tenta nunca mais.
A culpa é do imediatismo. E sua. E nossa. Dos apressadinhos desvairados. Dos que não querem crescimento gradual, querem ser os melhores no aqui e agora, mesmo sabendo que é impossível, porque o último gênio nasceu já tem tempo. Não. Não somos gênios. Somos os underdogs. Os azarões. A gente tem que ser bom de briga [tem mais referência literária aqui do que deveria, mas segue o baile].

Com a gente, e não adianta se achar muito espertinho, porque você e eu sabemos o quanto a gente apanha da vida pra conseguir as coisas. Não importa de onde você veio ou para onde vai, tem sempre um soco no estômago pra te fazer cair sentado e sem ar. Daí você vai pegar e sair correndo? Vai ficar no chão e esperar que a vida se retire do ringue? Não. Não tem essa opção e você sabe. Você vai levantar, não importa como ou porquê. Você vai se erguer e tentar de novo. Mesmo que “tentar de novo” seja admitir que perdeu. Sim, tem vezes que perder uma briga e também ganhá-la e você vai ter que descobrir sozinho quais brigas tem que perder para ser um vencedor. Não, não faz sentido, mas o que é que faz?

Mas tem lutas, tem coisas, tem pessoas, que valem a pena o próximo round. Lutas que se ganham gradualmente, soco por vez. Você tenta, erra, tenta de novo, e fica melhor, tenta de novo e erra só um pouquinho, tenta de novo e consegue, mas pode melhorar, e tenta e tenta e tenta e tenta… até você olhar e sentir orgulho. Sabe aquele clichêzão de filme que diz que o percurso é mais importante que a chegada? Os filmes estavam certos. É no caminho que a gente aprende, não na linha de chegada.

E deixa eu contar uma coisa dessa nossa paranoia de coisas perfeitas em segundos: a perfeição é rasa. Isso que você leu. Não existe nenhuma profundidade no perfeito. Não tem o que ver, o que entender, o que procurar. Perfeição é estagnação, o fim. No imperfeito a gente melhora, a gente busca, entende, reflete, aceita e até aprende a respeitar. O perfeito tem o que pra oferecer? Padrão? Zona de conforto? Manda pro caralho porque zona de conforto e padrão não mantém ninguém. Não. Isso não é uma desculpa para você fazer as coisas de qualquer jeito. É um tapa na cara pra você acordar e lembrar que todo dia é dia de ser uma pessoa melhor.

É difícil ser bom. Eu sei que é. Eu também estou tentando do lado daqui e às vezes nem sei como. Às vezes eu olho a bagunça que tudo tá e não tenho ideia se começo a arrumar ou se durmo e finjo que não vi nada. Mas sabe, é difícil ser bom, é difícil ser ruim, é difícil tudo e qualquer coisa, de qualquer maneira. E se é pra escolher, vamos ficar com algo positivo, né? Pelo menos foi a minha decisão. E te falo: você não vai querer ser bom sempre e você não vai ser bom sempre. Não tem como. Principalmente porque não somos perfeitos. E ainda bem que não. Gente rasa é um saco.

 

 

[a mare tá voltando pro blog? não faço ideia, mas seguimos]

 

imagem de capa: Ana Aragão

 


mare