Maria reclamava de tudo. Desde criança só sabia espernear por qualquer coisa. Era o brócolis que não queria comer, arroz que tinha demais, carne de menos. Se tinha frango ela queria bife, se tinha bife ela queria ovo, se tinha ovo ela não queria comer. Era uma do-contra fiel aos seus princípios. Maria foi crescendo, mas se falassem isso pra ela, logo dizia que ainda era criança. Só era gente-grande se alguém a chamasse de criançona infantil. Na escola, se a elogiavam por ser boa aluna, logo tratava de tirar notas baixas. Tinha aptidão para exatas, mas escolheu fazer latim. Era chata, nada nunca estava bom. Frio demais, quente demais. Futucava as redes sociais todo o dia só pra reclamar nas fotos dos outros, nas postagens dos outros. Ela nunca recusou um textão: nem pra ler, nem pra escrever. Reclamava de tudo, até do que ela concordava. Se meteu em diversas brigas e confusões só pelo gosto de discordar, nem precisava saber se sua opinião tinha fundamento. Um dia, Maria casou, mas até “sim” disse esbravejando. Depois, reclamou da gravidez, reclamou do filho que crescia rápido demais, reclamou quando ele, depois, saiu de casa e se casou, reclamou até quando foi avó. Era muita bagunça na casa, a criança berrava, era grudenta, mimada, chorona. Maria era uma velha rabugenta, e se alguém lhe dizia essas coisas, logo gritava: “tenho direito de falar o que eu quiser!”.
Quase no fim da vida, Maria percebeu que reclamava demais. E morreu reclamando que deveria ter ficado quieta.


Mare